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Medalhista de prata na Rio 2016 perdeu técnico colombiano, não conseguiu novos patrocinadores e retomou os estudos em Engenharia Aeroespacial pensando no futuro
Conquistar a primeira medalha do Brasil na Rio 2016 e quebrar um jejum de 96 anos sem pódio olímpico no tiro esportivo parecia o bastante para mudar a vida de Felipe Wu. A prata de fato trouxe muita visibilidade ao atleta, mas o reconhecimento do público e da mídia não se transformou em uma melhor estrutura ou novos patrocínios. Pelo contrário. Passada a Olimpíada, o atleta de 24 anos voltou a treinar sozinho no Hebraica, sem a orientação de um técnico, e segue com apenas uma arma para competir. Assim, retomou a faculdade de Engenharia Aeroespacial, já vislumbrando uma carreira paralela no futuro.
Felipe Wu exibe medalha de prata: fim de jejum de 96 anos sem pódio olímpico brasileiro no tiro esportivo (Getty Images)
Depois de subir ao pódio nos Jogos, Wu foi procurado por um fabricante de munições de armas de fogo. Mas as conversas iniciais não avançaram depois do evento. O paulista tem apenas o apoio de uma fabricante de chumbinho e do Exército, do qual é atleta desde 2013, além de receber o Bolsa Pódio, benefício do governo federal, por ser medalhista olímpico – desde junho do ano passado ele já se enquadrava na mesma categoria por ter alcançado a liderança do ranking mundial na pistola de ar (10m).
A principal mudança na estrutura de treinos de Wu foi a saída do técnico colombiano Bernardo Tobar, que passou apenas um ano vinculado à Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE). Apesar do pouco tempo de trabalho, o treinador foi muito elogiado. Para Wu, as pequenas nuances apontadas por Tobar o ajudaram muito na reta final da preparação olímpica.
- Com certeza a maior mudança foi a saída do meu técnico, que voltou para a Colômbia. Eu voltei a treinar sozinho, totalmente por conta própria. Era muito importante ter alguém acompanhando o dia a dia, vendo os detalhes, se fazemos algo diferente – disse o atleta, acrescentando que acredita que a situação será revista e Tobar retornará ao cargo.
Tobar, de camisa verde, foi responsável por lapidar Felipe Wu rumo à prata na Rio 2016 (Foto: André Durão)
O aspecto mais positivo da medalha olímpica foi o carinho dos fãs. Hoje Wu é reconhecido por onde passa e posa para fotos com frequência.O status de medalhista olímpico, no entanto, não foi suficiente para evitar um constrangimento e um grande prejuízo esportivo recentemente.
Em meados de outubro, Wu e a namorada, a também atiradora Rosane Budag, voltavam de uma competição na Itália rumo a Curitiba, onde disputariam a última etapa do Campeonato Brasileiro. Na conexão no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, um erro de procedimento da companhia aérea no despacho das armas fez com que a Polícia Federal fosse acionada no raio-x de bagagens. O casal de atletas ficou retido por cerca de cinco horas até que tudo fosse resolvido, mas perdeu o torneio e a chance de disputar os títulos das respectivas provas.
Wu posta imagem de estudo da faculdade em rede social e pede férias (Reprodução Instagram)
São essas burocracias excessivas e a falta de apoio que desanimam os profissionais. Wu ainda adota uma postura otimista e evita reclamar, mas constrói paralelamente à carreira de atleta um futuro em outra profissão. Passados os Jogos, ele retomou os estudos do curso de Engenharia Aeroespacial, trancado desde abril. Para dar conta de tudo, reduziu temporariamente a carga de treinos.
- É bem complicado (estudar) agora que voltei a treinar. Certamente minha dedicação não é como em 2016 porque minha dedicação era total aos treinos, tranquei a faculdade, mas espero conciliar bem e ter bom rendimento. Infelizmente nosso esporte não é muito profissional, e eu preciso ter um plano B. Acho que termino o curso bem próximo de Tóquio (Jogos de 2020), um pouco antes ou um pouco depois.
Para facilitar a vida de Wu, o calendário do tiro esportivo em 2017 está bem mais ameno do que nas temporadas em que há contagem de pontos para o ranking de classificação olímpica. Os primeiros compromissos serão ainda em janeiro, em competições na Alemanha e na Holanda. Haverá apenas três etapas de Copa do Mundo, em março, maio e junho. E no segundo semestre, ainda sem data ou local confirmados, o medalhista olímpico disputará o Sul-Americano e o Ibero-Americano.
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