O tiro esportivo é uma das modalidades mais tradicionais do programa olímpico, distribuindo 15 medalhas de ouro em cada edição dos Jogos. No Brasil, o esporte ainda não é muito divulgado. Entre as categorias, o skeet feminino é a de menor tradição. Que o diga Daniela Carraro, campeã nacional, que disputou sem nenhuma adversária cinco etapas do Campeonato Brasileiro de 2014. Como é a única atiradora de alto nível na categoria, a atleta já tem a vaga para as Olimpíadas garantida:
- Existe uma atleta no Rio de Janeiro, Daniele Gedeon, que participa de algumas etapas. Mas ela vai quando pode, não está sempre. Então eu compito sozinha quase sempre, é uma situação estranha - disse Daniela Carraro.
Daniela Carraro é a única atleta de alto nível no país (Foto: Reprodução/Facebook)
A prova de skeet é disputada em Jogos Olímpicos desde Montreal 1976, com a entrada das mulheres em Sydney 2000. Na disputa, dois pratos são lançados de lugares aleatórios no campo de competição, e o atleta precisa quebrá-los com dois tiros. A décima etapa do Campeonato Brasileiro da modalidade será disputada neste sábado, em Caxias do Sul (RS). Daniela Carraro não estava pensando em competir no evento, mas se surpreendeu quando viu que outras quatro atletas estavam inscritas na competição. Na história do esporte no país, é um fato único:
- Eu não ia participar dessa prova, mas decidi ir porque é uma coisa inédita. Atirar com mais brasileiras ao meu lado. Eu sinceramente nunca ouvi falar delas, são todas do Rio Grande do Sul mesmo, mas eu torço para que cada dia mais meninas se inscrevam - contou Daniela.
Quando participa das competições nacionais, Daniela vê mais 30 atletas em outras modalidades do tiro, como fossa olímpica ou fossa dublê. A briga por uma vaga na final dessas provas é sempre muito grande. Enquanto isso, a atleta atira sozinha as eliminatórias e a final, já sabendo que vai ganhar, esperando apenas melhorar a pontuação com relação às competições anteriores.
- É ruim, o esporte é competitivo, então, sem competição, você não cresce. Nas competições internacionais, estou sempre sozinha defendendo o Brasil. É difícil sair, viajar, ficar tensa sozinha. Quando chego para competir, o resto da equipe, que participa das provas de fossa olímpica, vai embora. Ficar sozinha é duro.
Daniela Carraro foi campeã sul-americana este ano, no Chile (Foto: Divulgação/CBTE)
No último fim de semana, Daniela ficou na quarta posição no Campeonato das Américas, no México, atrás de três norte-americanas, o que representou a medalha de bronze para a brasileira devido ao limite de atletas por país no pódio.
- Como sempre disputo as provas sozinha no Brasil e, na América do Sul, são pouquíssimas as atletas que competem, nunca disputei uma final. Nunca tinha feito uma eliminatória completa e avançado para uma fase final. Foi uma experiência incrível - revelou a atiradora, de 29 anos.
Apesar de ainda jovem, Daniela já abandonou o esporte uma vez. Em 2009, parou de atirar e só voltou quase três anos depois, com o objetivo de disputar as Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Daniela Carraro representa o Brasil nas principais competições (Foto: Comitê Olímpico brasileiro)
O Brasil tem nove vagas garantidas no tiro esportivo para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Uma delas é na prova de skeet feminino. Porém, esse lugar quase foi tirado do país a pedido da própria Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE). A entidade sabia da deficiência da categoria skeet feminino no país, então solicitou para a Federação Internacional (ISSF) que trocasse a vaga brasileira para outra categoria, a fossa dublê masculina. O pedido foi negado:
- Graças a Deus eles negaram. Eu tinha falado com a Confederação Brasileira para eles confiarem em mim, que eu ia voltar com tudo. Não confiaram muito, mas ainda bem que a federação internacional negou. Estou com bons resultados, estou firme para chegar bem em 2016 - comentou.
Daniela é formada em Administração e trabalha com gestão estratégica em uma farmacêutica, na cidade de São Paulo. O tiro esportivo entrou na sua vida quando tinha dez anos de idade, por influência do pai, que já atirava. Atualmente, a vida é dividida entre as duas profissões:
- A Confederação me cobra resultados, com razão. Mas não posso me dedicar 100% ao esporte porque ninguém vive só do tiro no Brasil. O pessoal do meu trabalho me entende, mas também não dá total liberdade. Não posso abrir mão do trabalho. Preciso ficar me dividindo - explicou.
Depois da última etapa do Campeonato Brasileiro, Daniela focará as atenções para o ano que vem, em que disputará o Campeonato Mundial da categoria, na Itália.
Postado por Thom Erik Syrdahk
Fonte, Globoesporte